A queda da internet: como tudo começou
Como um sistema de publicidade digital minou a cultura online
Quando a internet começou a desandar? Como um ambiente entendido como fonte de conhecimento infinito virou um celeiro de raiva, inveja e vaidade? Há algum pecado capital não contemplado? A primeira ruptura ocorreu com o Google, mais especificamente com o AdWords.
AdWords, hoje Google Ads, é o sistema de publicidade do famoso buscador. Desde seu lançamento, em 2000, dá para anunciar com qualquer orçamento, desde o troco do pão até o faturamento anual de uma rede de padarias. Atraente... E aí começa o problema. Vale comparar com a publicidade tradicional para entender o efeito do AdWords.
Anunciar em um jornal ou revista é um produto claro (e caro). O preço varia conforme o tamanho, posição e audiência do veículo. O último elemento é delicado. Não basta jurar "imprimo um montão de exemplares, confia", é preciso que um terceiro diga isso – o IVC (Instituto Verificador de Circulação), por exemplo. É uma parte isenta.
Os sites agiam de forma similar, instalando contadores terceirizados de audiência (entre eles, o Google Analytics). Era uma espécie de ética online. Até que o Google bagunçou isso tudo.
Grosso modo, o Google Ads cobra do anunciante por acesso. O valor varia conforme fatores que o próprio Google determina ele próprio sobre si próprio. "Confia".
Quem decidiu gastar o troco do pão por lá constatou: dá resultado. "Não diga mais nada", pensa o anunciante ao renovar o investimento. Pronto, o sistema foi corrompido.
A consequência é a aceitação da autodeclaração de audiência e engajamento. YouTube (do próprio Google), Facebook, TikTok, até mesmo este Substack: todos dizem "confia", "eu dou resultado", "cheguei a milhões; fonte: eu mesmo". O placar é uma moeda emitida pela própria plataforma, com impactos na vida contemporânea, em especial no terceiro país que mais consome redes sociais no mundo. Mexe conosco.
Em 2016 o Facebook admitiu ter inflado os números de audiência. Pouco ou nada mudou, nem em termos de desconfiança.
Os impactos reverberam hoje. A audiência do vídeo do deputado Nikolas Ferreira sobre o PIX virou fato político. Peguei meu ábaco aqui, dados dali = cada usuário brasileiro do app viu o post de Ferreira mais de três vezes. E isso que ele foi postado em outras plataformas, por outros perfis. Sim, é um vídeo popular, mas diante da falta de transparência cabe a pergunta: tanto assim?
A circulação de dados das plataformas sem aferição foi o primeiro passo da deturpação do mundo digital, o início da escalada de poder das empresas de tecnologia. Outros momentos significativos ocorreram nessa história que merece o nosso acompanhamento. Tratarei disso em breve, em outro sétimo dia.
e a sensação é de que essa verificação nunca acontecerá; será sempre revertida por alguma nova distração conveniente para quem monopoliza a audiência.
Aferição o número de audiência!
E vamos pesquisar as saídas, e colaborar sem custos ou gratuito, foi captação de dados ou trabalhar com valor de troca, monetização ou conhecimento limitado às redes sociais?