Minha sogra, que é argentina e sabe português, dá um sorriso debochado quando surgem expressões como "idosa", "terceira idade", "melhor idade". Feliz com o atendimento prioritário dado por lei no Brasil, ela entende como uma maneira fofa de se referir ao velha/o. Nossos vizinhos tratam a vida de um jeito mais frontal.
Quando Luis "El Pistolero" Suárez, gigante do futebol mundial, veio jogar no meu Grêmio, fui correndo dividir a novidade com o sapateiro uruguaio do bairro. "Tá viejo, eh", me disse antes de qualquer coisa. Suárez nasceu em 1987, jogou no Grêmio em 2023. Idade no futebol segue outra conta, ao amigo uruguayo era um viejo antes de qualquer coisa.
O véio meteu 29 gols durante sua passagem mágica pelo Grêmio, diga-se.
E o Mujica, assunto da semana passada? Velho, gordo e malvestido. Certeza que muitos se surpreenderam quando mencionei os resultados que o governo obteve. Mira la esencia, no las apariencias, como Aterciopelados ensina.
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Creio não ser velho — 40 anos… se morrer hoje, aposta que há de ter um ou outro dizendo “tão novo”. Nem gordo (suave pança-pochete), mas não me ofenderia se assim fosse qualificado, nem pelo oposto – jovem / magro. Agora, malvestido, puxa vida isso soy. Se dependesse de mim, Renner, C&A, Riachuelo, Zara e outras estariam quebradas. Não tenho volúpia ou prazer em comprar roupa.
O melhor investimento de marketing do artista gráfico Márcio Sno foi uma camiseta do seu personagem Encostinho. Uso ela há anos nos mais diversos contextos. Dia desses saiu no Estadão.
Fora que uso o mesmo par de tênis o tempo todo – são ideais para caminhadas longas, impermeáveis. Ou seja, uso um equipamento muito além da necessidade diária, mas se algo de extraordinário pintar, deixa comigo. Bônus: não preciso pensar.
Há quem te julgue por isso. O que gera um efeito benéfico mútuo – eu julgo quem julga pela aparência. Então vai cada um para o seu lado, na paz.
“Você pode perder oportunidades de negócio por isso”. Sim, sim. Paz.
Filtro duplo funcionando, o Encostinho evita quem eu quero que me erre.
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Saindo das raias do meu umbigo sujo, penso na percepção da situação do Brasil. Depois da grande queda de 2020 seguida do salto de 2021 (leia: pandemia), o país desde então cresce de 3% para cima. Um patamar bem razoável, não é uma China, mas é tipo Espanha.
Inflação está um pouco acima da meta, nada grave, taxa de emprego forte... Claro que há graves problemas no Brasil ainda – distribuição de renda, carga tributária (que se não bastasse ser elevada, carrega uma burocracia medieval) e juros elevadíssimos são alguns exemplos. E eu vejo que esse último se deve a essa percepção de crise, estado de atenção.
Sabe quando o Brasil cresceu nesse patamar atual? Em 2013 (exatos 3%), o ano em que protestamos sem saber direito a razão. O que o terceiro olho captava naquela época? E agora?
PS: Leia sobre um cara que eu admirei un montón
Mujica
Melhor é o homem paciente do que o guerreiro, mais vale controlar o seu espírito do que conquistar uma cidade. (Provérbios, 16:32)