rolar de dados ֍ enrolar de redes
Da hesitação política à sensação de insegurança, o moldar da percepção popular
Na semana passada dei a entender que a percepção humana é inexplicável, advinda de um rolar de dados. Soou como passada de pano a Lula 3, que vem perpetuando erros não forçados (para usar o termo do tênis), apesar de colecionar indicadores positivos — o mais recente é o avanço do PIB no 1º trimestre, maior que Estados Unidos, China e Europa.
A opinião popular não é um rolar de dados, mas sim tem relação com um rolar de rede sociais, um enrolar. Vigilância do PIX, taxa das blusinhas, nome e sexo no documento de identidade foram alguns dos assuntos em que o governo disse que ia, mas acabou não fondo – tremeu na base diante da repercussão. E a desaprovação de Lula bate recorde.
O aumento no IOF é o bate-cabeça da vez, de consequência fulminante. Como espalho meus recursos em vários bancos desde que fui cancelado pelo Nubank, recebi o alerta de várias instituições: o governo subiu o imposto. Estão na deles. Acabaram por relembrar o meme Haddad / Taxad – o que só deve aumentar o pavor em Brasília.
Um pouco dessa falta de firmeza vem da natureza conciliadora de Lula. Pense nos três temas legalizados por Mujica: maconha, aborto, casamento gay. Quem perguntar a Lula, deve receber uma resposta daquelas fenomenais, volta gigantesca de exibição extensiva do lendário carisma do presidente brasileiro. E a opinião? Sei lá, mas o cara é massa… longe de ser um Gabriel Boric, que sim apresentou projeto de lei de legalização do aborto no Chile, mas é massa.
Entre lenga-lenga e Marina Silva, Lula fica com
A Presidência Bolsonaro baixou tanto o nível que a meta era a mediocridade. A atual gestão fica devendo.
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Outro assunto a separar percepção de indicador positivo, a política da população (e com várias explicações palpáveis) se dá na segurança pública. A violência no Brasil atingiu a menor taxa de homicídios em 31 anos. Esse é o termômetro clássico dos estudos do assunto – em tese, reflete uma diminuição da criminalidade em geral. E o Estado de São Paulo chegou a atingir índice inferior aos dos Estados Unidos.
Dito isso, vá tentar usar esta pesquisa para convencer alguém a andar sozinho de madrugada. A população brasileira se sente cada vez mais acuada e amedrontada.
(fonte)
Razões sobram. Iluminação pública sofrível, falta de coleta de lixo, calçadas que parecem cenário de guerra, sistema penal medieval, espaços públicos desenhados a atender veículos automotores individuais em detrimento do ser humano ajudam a compor esse sentimento do Brasil médio.
Outro fator / consequência importante é a disseminação da segurança privada. Isso implica em alta nas câmeras gravando, vigiando. Também estão no celular, no tronco do PM. Pan-óptico. Registram o que passar na frente, uma brincadeira de criança ou o latrocínio por uma aliança de ouro. Conteúdo pronto para ser clipado e disseminado em redes abertas e fechadas habitada por esta sociedade apavorada, enredada em imagens que refletem e reforçam opiniões preexistentes.
Um campo comum para governo & população.
PS: Falei do meu armário semana passada, que fase
A percepção é outra
Minha sogra, que é argentina e sabe português, dá um sorriso debochado quando surgem expressões como "idosa", "terceira idade", "melhor idade". Feliz com o atendimento prioritário dado por lei no Brasil, ela entende como uma maneira fofa de se referir ao velha/o. Nossos vizinhos tratam a vida de um jeito mais frontal.