Empreguei o verbo consumir para um livro. Ué, com "ler" tão acessível, compreensível… pois me referi a um livro em que estou a ouvir, ou seja, um audiolivro1. É um gosto adquirido. E, olha, eu tenho ouvido coisas.
Por regra, as pessoas gostam de música. As playlists de foco / estudo e a Lofi girl indicam que a concentração humana é incrementada por músicas puramente instrumentais. Palavra, mesmo em outro idioma, clama atenção. Palavra sem música então…
Permita-me vestir a bombacha (a calça gauchesca, não confundir com o vocábulo espanhol para calcinha). Ouço rádio desde guri, no Rio Grande do Sul o veículo é forte. Gaúchos somos propensos a sermos turrões, logo há vários programas de mesa redonda em que os integrantes discutem por horas.
O rito de passagem à vida adulta do gaúcho é virar ouvinte do Sala de Redação, programa onde o mais jovem integrante da bancada tem idade para ser seu avô – com o passar dos anos, você começa a emparelhar com faixa etária dos integrantes, entende a rabugentice dos caras, conhece as histórias deles de cor e salteado.
Para você tu ter uma ideia da minha paixonite por rádio, quando consegui adquirir meu primeiro tocador de MP3 eu optei pelo Zune, da Microsoft, ao invés do iPod, o aparelho muito mais conhecido da Apple. Motivo: aquele tinha rádio. Fiquei frustrado que não pegava frequência AM, mas vá lá. O Zune foi um fracasso retumbante da dona do Windows – me senti meio solitário quando o aparelho foi descontinuado em 2011. Ao longo do tempo, rádio se manteve como critério na escolha de smartphones.
Com essa fidelidade canina, descobri um segredo do rádio falado: você não precisa ouvir tudo. Os comunicadores sabem que você não está prestando 100% de atenção e são reiterativos. Pegue o Clube do Livro da CBN. José Godoy apresenta o livro em discussão ao menos duas vezes, no início e no final de seu comentário.
Isso + desapego. Tudo bem perder uma frase ou outra, não dá nada. Talvez aqui esteja o mais complicado e o mais distante do esperado de um livro…
Aí veio o podcast, ref/verenciada aqui. Ouso dividir os programas em dois tipos, conversa solta e roteirizado. No solto, vale a lógica do rádio, fique tranquilo, dá para perder um detalhe ou outro de boa, há facilidade de pausar e voltar.
Nos roteirizados (Praia dos Ossos, Caso Evandro, Presidente da Semana) é solicitada um pouco mais de atenção. Em geral, outros signos, como a trilha sonora, estão ali para auxiliar a compreensão.
Aqui surge uma demanda, um pensamento de consumo. Vale a pena deixar o podcast roteirizado aos momentos em que sua atenção não é tão necessária – caminhando, lavando louça, etc.
Nesse gradiente, o passo seguinte é o audiolivro, um formato do texto pensado para o livro impresso. A metade "livro" do audiolivro atrapalha o audiolivro, mas você não está preparados para esta conversa. Na próxima edição certamente sim.
PS: Leia abaixo o texto de ⌘⌬⌇𖤐-༄༽❜+ᥱᥲ ੭ु⁾ ࿐ ࣭֗̇₊ 。༴ ॄ‘⌔ ⌇˚.༄ #◞=#@
Soa bem melhor que audiobook, vai