O Audio(que precisa ser)livro
Tentativas de definições de uma certa experiência literária
Pesquisa aponta o rádio como a mídia mais confiável. Viu, viu, viu? Ouviu? Passa o cotonete; retomo de onde parei.
A metade "livro" de vocábulo audiolivro impõe profundidade & fidelidade ao impresso – afinal, é um formato mais próximo de uma edição de bolso do que a uma adaptação teatral ou cinematográfica.
O texto de um livro é pensado para ser lido com os olhos – foi-se o tempo em que por padrão o texto era para ser vocalizado publicamente.
Mas e o livro para a infância? E a poesia? Tá. Vamos fazer o seguinte, método interativo de leitura: você insere [EM GERAL] sem eu precisar escrever, fechou?
Então vai lá, você na sua leitura silenciosa. Opa, rolou uma frase confusa por causa de um súbito e inexplicável barulho estranho da rua. Não é problema. Um movimento ocular tão mínimo que tu nem pensa nele faz repassar linhas ou parágrafos inteiros.
Os signos gráficos (visuais), exaltados aqui, fazem falta no audiolivro. Som não tem travessão (—) para delimitar início e final de citação direta, nem dá para fazer aquele gesto com os dedos de abre aspas, e isso que peguei um exemplo dos mais banais, dá para dichavar bastante isso aqui.
Adaptar o texto ajudaria a fluir a narrativa. Porém (ai, porém)1 mexer no conteúdo do livro está fora de cogitação. Isso diz muito sobre a aura e o status do veículo livro, perceba. Outro tijolo na fortaleza chamada livro impresso.
Também – não esquecer – editoras em geral gostam de seguir modelos, preferem a segurança que não abale a carreira em linha reta de lançamento de títulos. O mundo literário é super estruturado, tradicionalista e verticalista. A descrição não é minha, é de Camila Sosa Villada, autora de Las Malas.
A maioria dos audiolivros é confeccionada com um único locutor. A solução nos diálogos é interpretar vozes específicas para cada personagem. Nem sempre fica legal, digamos. Há casos de livros que investem em efeitos sonoros, trilhas, diversos autores, mas isso é exceção e, de novo, longe de ser garantia de qualidade.
Amiúde bate um sentimento de perda de oportunidade. Livros sobre música, que no formato áudio poderiam se esbaldar, acabam por se retrair, provavelmente acabrunhados diante dos severos copyrights da indústria da música. Um refrão de 15 segundos no meio de um audiolivro de 12 horas abalaria a venda de ingressos para shows do artista ou as compras de CDs, é compreensível.
Um vídeo da Lote 42 já foi derrubado por usar músicas gratuitas e ditas livres de direitos oferecidas pela própria plataforma(!?). O Spotify começou a despublicar episódios de podcasts que usam música não autorizada – puxa, quem diria, um monopólio no mundo digital causando problemas até com CHEGA NÃO AGUENTO MAAAAAAIS FALAR DISSO.
Enfim, audiolivro é bom, mas vacila. No próximo encontro: exemplo prático. ExemploS, talvez?
PS: Fui excomungado do Rio Grande do Sul por causa do texto da semana passada
Audiolivros: como ler com a orelha
Empreguei o verbo consumir para um livro. Ué, com "ler" tão acessível, compreensível… pois me referi a um livro em que estou a ouvir, ou seja, um audiolivro. É um gosto adquirido. E, olha, eu tenho ouvido coisas.
Há um caso diferente que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval